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Da melancolia

Apesar de aparentemente revelar-se como um profundo estado de tristeza, chamada também de depressão, a melancolia se caracteriza por uma incapacidade de sentir, por uma sensação de vácuo emocional, na qual o indivíduo, tendo ou não um motivo evidente, se vê compelido a conviver.

Essa “ausência” de sentimentos fica mascarada pelo prazer que a melancolia dá ao indivíduo pelo simples sentir algo, sejam sentimentos positivos ou negativos. O indivíduo melancólico vive um estado de profundo esvaziamento de si mesmo, de não-sentir, onde qualquer estímulo que este possa sentir lhe dá prazer, na medida que sua “dor” se encontra no fato de não se ver capaz de sentir.

Sendo assim, há quem diga que o indivíduo poderia facilmente abandonar o estado de melancolia somente se expondo a situações positivas e evitando as negativas. No entanto, ao vivenciar uma situação a qual o indivíduo melancólico, dentro de seu padrão sentimental, deveria responder de forma positiva, este tende a perceber a brevidade de tal momento frente a duração de seu “não-sentir”, antecipando a melancolia em forma de angústia, e impossibilitando a devida reação. Em outras palavras: o indivíduo sabendo do fim daquele momento e seu retorno ao estado de “não-sentir”, passa a sofrer antecipadamente seu fim, acabando com qualquer possibilidade de desfrutar o sentimento.

A partir do momento o qual o indivíduo se vê incapaz de sentir prazer com sentimentos positivos, esse passa a buscar o prazer do “sentir” nos sentimentos negativos, os quais tendem a ser vividos com maior intensidade na medida em que o indivíduo não se angústia pelo seu fim, uma vez que sabe que consegue acessar este estado a qualquer momento. O indivíduo tende assim, a assumir uma postura decadente, buscando o sofrimento emocional como forma de aliviar a dor do “não-sentir”. Não se trata mais de um “estar triste”, mas sim de um “desejar estar triste”.

Dentro desse “desejar estar triste” pode surgir a aceitação da condição, onde o indivíduo desiste de continuar e se entrega ao problema, buscando ir cada vez mais fundo de encontro a sentimentos negativos. Isso pode levar a um agravamento da condição melancólica, na medida que não há um ponto de equilíbrio, isto é, não existe um ponto o qual o indivíduo não “afunde” mais, podendo este se perder num universo de sofrimento e dor.

Dessa forma, o indivíduo melancólico se vê preso em um paradoxo: para aliviar a dor do “não-sentir” deve buscar a dor. Isso aprisiona o indivíduo, tornando-o refém de si mesmo, na medida em que o indivíduo causa o mal a si.

“Eu sofro porque isso me faz feliz.”

29.11.2013

 

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